Frei Pietro Cuffini: A memória de um italiano em Salto Grande


Todos os que adentraram o cemitério municipal de Salto Grande já se depararam com dois túmulos logo na entrada. Em um dos túmulos repousam os restos mortais de um religioso italiano pouco conhecido pelas gerações mais novas. Trata-se de Frei Pietro Cuffini, nascido em Bolano La Spezia em 11 de março de 1881, filho de Luigi Cuffini e Carolina Adorni. Quando jovem, trabalhou como lavrador, operário e assistente em um colégio em Piacenza.

Seguindo sua vocação, ingressou na Congregação dos Oblatos de São José em 1914. No entanto, a guerra o impediu de continuar seus estudos, sendo convocado para lutar por seu país.

Um fato curioso sobre Pietro Cuffini é relatado no livro "A Congregação dos Oblatos de São José no Brasil", do Padre José Antonio Bertolin, confira:

"Certa vez, quando estava em Turim, na Itália, deparou-se com uma patrulha de soldados que tinham ordens severas de executar quem desobedecesse à hora de recolher. Irmão Cuffini não tinha ordens nem armas especiais para estar perambulando por aquelas horas, mas por sorte possuía algumas estrelas em seu casaco. 

O soldado, ao vê-lo, perguntou-lhe:

- Aonde você está indo? 

- Aonde eu quero - respondeu Cuffini. 

- Isso é resposta apropriada? E é essa a pergunta a fazer? - disse ele.

O soldado bradou novamente: 

- Você sabe que posso mandar atirar em você? 

Irmão Cuffini retrucou dizendo: 

- E você sabe que posso mandar prendê-lo, pois sou da inspeção.

O diálogo terminou aí. Os soldados apressaram-se em ir embora, e Cuffini também, dando graças a Deus."

Após a guerra, em 1919, retornou para a congregação, professou os votos religiosos de castidade, pobreza e obediência, e recebeu a batina. Em 1921, foi enviado em missão para o Brasil. Tinha um bom senso de humor, gostava de ajudar as pessoas e organizava quermesses nas comunidades por onde passava. Sua presença marcante é lembrada em Paranaguá, Ourinhos e Salto Grande.

Caminhava pelo seminário de Ourinhos com um rosário na mão e gostava de lidar com a terra, cultivando verduras e cuidando de abelhas na horta do seminário. A guerra certamente lhe proporcionou diversas experiências com receitas naturais. No Brasil, muitas pessoas iam até ele para conseguir as fórmulas de remédios naturais à base de ervas e creolina.

Era catequista, sacristão, operário. Para ele, não havia tempo ruim; fazia tudo o que podia. Devido ao seu porte físico e ao peso da idade, já andava lentamente, com respiração ofegante.

Faleceu em 4 de outubro de 1967, às 18h30, no Hospital São Sebastião em Salto Grande/SP, aos 86 anos. O atestado de óbito foi assinado pelo Dr. Raul Gonzalez de Moura, que deu como causa da morte "senilidade sem psicose", em outras palavras, "causas naturais".

Frei Cuffini cultivou a bondade e o amor por onde passou. Talvez não seja tão lembrado, já que viveu toda sua vida à exemplo do fundador de sua congregação, São José Marello, que propunha aos seus membros o silêncio, a humildade e o escondimento. Em Salto Grande, uma avenida foi nomeada em sua homenagem como forma de honrar o seu legado em nossa cidade.

Toda vez que visitar o cemitério de Salto Grande e passar por seu túmulo, lembre-se de sua história e faça uma prece por seu descanso eterno.

Foto: Frei Pietro Cuffini à esquerda, no centro padre Mario Tésio e à direita  o padre Mario Briatore em Ourinhos (1951)

Referências:

BERTOLIN, José Antonio. A Congregação dos Oblatos de São José no Brasil. Curitiba: Província Nossa Senhora do Rocio, 1989. V. 1 e 2.


1 Comentários

  1. Parabéns Salto grande tem umas histórias muito lindas um cemitério abençoado cheio de gente famosas que estão junto a Deus muito maravilhoso as histórias pense mesmo que proclamar passar para frente a história é muito maravilhosa abençoada cidade e abençoada escrito que

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